quinta-feira, 23 de junho de 2011

PERSPECTIVAS SOCIAIS DO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO EXCELENTE TEXTO DO PROFº. JOSÉ CARLOS BELO R. JUNIOR*

Perspectivas Sociais do Processo de Envelhecimento
Autor: José Carlos Belo Rodrigues Junior
Publicado em: 04/10/2008
Origem do texto: revistavirtualpartes.com.br
perspectivassociais.asp



Desde meados do século XX vem ocorrendo um envelhecimento conjunto da população mundial. Esse fenômeno é reconhecidamente fruto dos avanços da medicina, que aumentaram substancialmente a expectativa de vida dos indivíduos, sobretudo em países mais desenvolvidos, onde se constituíram redes de proteção social ligadas aos sistemas de saúde e previdência. Em decorrência disso, passou a existir uma demanda entre as ciências sociais pela conceitualização desses novos atores do processo de envelhecimento, o que deu origem, entre outros, ao termo Terceira Idade, como categoria analítica a partir da qual se procura entender este universo de pessoas de um modo distante dos estereótipos e preconceitos que geralmente lhes são atribuídos. No entanto, a percepção que ainda parece persistir é a de que velhice está associada a fatores negativos, como doenças, improdutividade, tristeza, solidão e morte.

O lugar conferido ao idoso no espaço social decorre do aparecimento de novas identidades, entre as quais a da juventude como condição ideal de vida e ação sobre o mundo em que vivemos. Na segunda metade do século XX, o jovem e o adolescente conquistaram espaços na sociedade de consumo, através da emergência de ritmos próprios e do aparecimento de artistas que expressavam um comportamento peculiar a esta faixa-etária, dando visibilidade aos segmentos sociais que dela participavam. A década de oitenta do século passado iniciou um frenético culto ao corpo, dando origem ao que Jean-Jacques Courtine (1995) chamou de cultura do “músculo-espetáculo”, que originou uma verdadeira indústria de aparelhos de musculação, suplementos nutricionais e revistas especializadas. O corpo humano tornou-se objeto plástico, cuja forma pode ser moldada ao bel-prazer do “portador”. Nessa nova era do extreme make-over, vale recorrer a quaisquer meios para enquadrar-se em padrões estéticos estabelecidos, de modo a escamotear os efeitos da idade. Com isso, muitos parecem sofrer de uma síndrome de Dorian Gray, personagem-título da obra de Oscar Wilde (1998), vivenciando um regime de negação do processo natural de amadurecimento.

A redefinição de identidades ligadas à idade cronológica concorreu para transformar as relações familiares e de poder entre as gerações, o que remodelou a posição dos mais idosos, que antes detinham um monopólio das decisões. A família patriarcal cedeu espaços para novos arranjos familiares, que enfraqueceram cada vez mais a figura do patriarca. Em um ensaio sobre a família nos tempos da globalização, Giddens (2003, p. 61) notou que “entre todas as mudanças que estão se dando no mundo, nenhuma é mais importante do que aquelas que acontecem em nossas vidas pessoais – na sexualidade, no casamento e na família”. Essas mudanças estão acontecendo, segundo o autor, no sentido da democratização das relações familiares, pondo fim a desigualdades entre homens, mulheres e crianças, entre pais e filhos, que eram o fundamento da família tradicional.

Esses e outros fenômenos contribuíram para alterar a concepção de velhice, enxergando-a não apenas como um período da vida associado a doenças, depressão, rabugice e solidão. De acordo com alguns estudiosos, como Zimerman (2000), estas não seriam peculiaridades de uma faixa-etária em especial. A condição de idoso, tal como vem acontecendo em relação à família, também tem deixado de ser concebida apenas como um estado de natureza. A conclusão a que tem chegado os especialistas é a de que a personalidade, ou o estado de saúde de uma pessoa não muda radicalmente apenas porque ela passou de uma faixa de idade para outra. Para Zimerman (2000, p. 19), “velho é aquele que tem diversas idades: a idade do seu corpo, da sua história genética, da sua parte psicológica e da sua ligação com a sociedade”. Esta definição evidencia a complexidade do fenômeno do envelhecimento, bem como emite um alerta para os riscos das generalizações a que estudiosos estão sujeitos, ainda que bem-intencionados.
 
O envelhecimento da população mundial é um fenômeno constatado nas estatísticas, seja em números relativos ou absolutos. Segundo informações do IBGE (2002), a população de idosos no mundo em 1950 era de cerca de 204 milhões, passando para 579 milhões em 1998. Um crescimento relativo de pouco mais de 180% em quase cinco décadas. Ainda conforme essa instituição, o número de habitantes com 60 anos ou mais no Brasil, em 1991, era de 10,7 milhões, correspondendo a uma população de idosos maior que a de vários países da Europa, como Inglaterra (9,8 milhões) e Portugal (9,7 milhões). O fenômeno da transição demográfica, que muda a estrutura etária da população, evidenciando o envelhecimento da mesma, é, portanto, uma realidade no Brasil há mais de uma década. As conseqüências dessas mudanças se fazem sentir, a princípio, na economia e, em seguida, nas esferas social, política e cultural. Na verdade, com Veras (2004, p. 5), constata-se que “ocorre não somente um aumento da população idosa, mas também um envelhecimento desta população, com um número maior de idosos nas faixas etárias mais elevadas”. Isto implica que, um trabalho de pesquisa que visa prover soluções para a Terceira Idade, necessita distribuir os elementos pesquisados em faixas-etárias.
 
Em países como o Brasil, tidos como economias em desenvolvimento, são considerados idosos os indivíduos que têm 60 anos ou mais (vide a Lei nº 8842/94, ou Estatuto do Idoso). Entretanto, como afirma Veras (2004, p. 4), “é difícil caracterizar uma pessoa como idosa utilizando como único critério, a idade”. Segundo o autor, o segmento da Terceira Idade abarca um público bastante heterogêneo, seja pelo prisma social, político ou econômico, entre outros indicadores. Esta população apresenta relevantes diferenciais no que tange a fatores como sexo, educação e renda.

Outro fenômeno que acompanha o envelhecimento é a feminização da velhice, ou seja, de acordo com o IBGE (2002), a maioria dos idosos no Brasil é do sexo feminino, população que era de 5,7 milhões em 1991 e passou para 8,5 milhões em 2002, o que representa um aumento relativo de cerca de 50% em onze anos. O público idoso masculino, no mesmo período, passou de 4,9 milhões para 6,5 milhões. Além da evidente inferioridade em valores absolutos, o crescimento relativo ficou por volta de 40%. Parece claro que essa constatação deverá receber criteriosa atenção em qualquer programa de atendimento que se pretenda desenvolver para o público da Terceira Idade. Nesse contexto, Veras (2004, p. 7) destaca os contrastes existentes nessa camada populacional, onde, muito embora o aumento do tempo de vida represente melhoria dos parâmetros de saúde, tais conquistas se fazem de forma desigual, dependendo de cada país e contexto. Sem falar que a ampliação da perspectiva de vida traz como natural conseqüência a ampliação da população idosa. Esse panorama traz implícito em suas nuances o desafio de, nas palavras do autor, “manter as pessoas de mais idade socialmente atuantes e participativas” (Id.,p. 9). Afirma também que este cenário parece implicar que “o novo objetivo da Gerontologia deverá ser o aumento da expectativa de vida saudável, com manutenção da capacidade funcional até o período mais próximo possível da morte” (Ibid.). Entretanto, o autor adverte que essa concepção, ao contrário do constatado empiricamente nas pesquisas epidemiológicas, pelo seu caráter idealista pode gerar equívocos.

Diante da verificação objetiva do gradativo envelhecimento da população brasileira, faz-se necessária uma análise dos aspectos evidenciados por esse processo numa esfera que tem grande influência para a Educação: a dimensão social. Muito embora todas as áreas conservem seu impacto em maior ou menor grau, é no âmbito social que as conseqüências do envelhecer se farão sentir com mais intensidade em programas educacionais. Uma evidência clara da extensão desses efeitos sociais é a constatação da heterogeneidade do fenômeno do envelhecimento. Assis (2004, p. 11) destaca que “o envelhecimento humano é um fato reconhecidamente heterogêneo, influenciado por aspectos socioculturais, políticos e econômicos, em interação dinâmica e permanente com a dimensão biológica e subjetiva dos indivíduos”. Logo, nenhum pesquisador deve orientar sua investigação tendo como ponto de partida a busca de generalizações. Enquadrar a realidade do idoso em classificações generalizantes pode fadar ao fracasso qualquer trabalho desse tipo. Num contexto onde não se pode falar de “idoso”, mas de “idosos”, é preciso estar atento às situações diferenciadas experimentadas pelos sujeitos da Terceira Idade. É imperativo questionar quais suportes sociais podem contribuir para a melhoria da qualidade de vida dessa população. Deve-se conhecê-los, de preferência, por meio de um criterioso levantamento que ajude a identificar e respeitar a diversidade existente entre os referidos “idosos”.

Um fator com amplas conseqüências na vida do idoso é, sem dúvida, a aposentadoria. Além de representar, em muitos casos, a perda de poder econômico, ela traz, conforme Assis (2004, p. 12), “o sentimento de baixa auto-estima e desqualificação decorrente da anulação da identidade profissional”. Ao encerrar uma era na vida do indivíduo, a do trabalho, da produtividade, a aposentadoria retira da pessoa sua profissão, que foi seu determinante por tantos anos. Outra consequência, oriunda da aposentadoria, dessa vez apontada por Zimerman (2000, p. 24), encontra-se no relacionamento do idoso com outras pessoas, em função de que, ao aposentar-se, nos dias atuais, as pessoas da Terceira Idade passam a ter pela frente muitos anos de vida, portanto, há sempre o risco de terminarem isoladas, deprimidas ou sem propósito. O autor adverte que os contatos sociais podem se tornar “reduzidos em função de suas possibilidades, distâncias, vida agitada, falta de tempo, circunstâncias financeiras e a realidade da violência nas ruas”. A própria atribuição do termo “inativo” à pessoa aposentada, se constitui numa denominação pejorativa, que subestima em muito a capacidade produtiva dessa classe. Retornando a Assis (2004, p. 13), pode-se ver que “a existência de preconceito em relação ao idoso também tem origem na supervalorização do trabalho e da produção na sociedade capitalista”. A saída para estas questões parece ser a conscientização quanto à necessária redefinição dos papéis sociais quando da aposentadoria. O aposentado, caso impossibilitado de continuar sua atividade laborativa anterior, deve encontrar novo propósito, novas formas de interagir, em suma, um novo “encaixe” social, que lhe proporcione rumo, novos desafios e oportunidades de continuar crescendo como pessoa e cidadão.

Conforme Mota (1990), no que diz respeito à questão da família e das relações afetivas, o envelhecimento ocasiona outros fenômenos, como a solidão e o sentimento de perda, em função da independência dos filhos, viuvez e esvaziamento da casa. A diminuição da célula familiar e a inserção da mulher no mercado de trabalho, são fatores que dificultam o atendimento às necessidades do idoso, sobretudo em casos de doença, ou até mesmo incapacidade motora. Segundo Assis (2004, p. 15), “nos grandes centros urbanos são agravantes a distância entre as moradias, as dificuldades do trânsito e o pouco tempo e/ou interesse de adultos e jovens para o contato mais estreito com seus familiares idosos”. Não se pode esquecer também que, nas últimas décadas, o acesso à informação tem sofrido uma revolução, já que um montante substancial de informações produzidas pela sociedade passou a estar disponível na rede mundial, a Internet. Este acesso ilimitado a informações retira do idoso seu status de fonte de experiência e sabedoria. O próprio valor da experiência dos mais velhos diminui, uma vez que a dinâmica interativa das interfaces digitais são mais atraentes para os jovens do que a mera transmissão oral de conhecimento. Assis (2004, p. 15) confirma que a “questão do afastamento de gerações tem se intensificado nas últimas décadas em função da rápida mudança de valores sociais e transformações tecnológicas que dificultam a comunicação e a identidade entre jovens e velhos”. Esse quadro parece apontar para uma efetiva exclusão digital da pessoa idosa.

Outra questão relevante a considerar é o confronto com a morte. Embora essa condição não seja exclusiva da velhice, é nessa fase da vida que a perspectiva do fim se torna mais presente. A perda do cônjuge e amigos contemporâneos potencializa os efeitos da proximidade da morte. Além disso, as perdas biológicas de força física, reflexos e mudanças na autoimagem, associam-se à aproximação do horizonte limítrofe da vida para produzir um sem-número de impactos no aspecto psicológico. Zimerman (2000, p. 25) atenta que os efeitos psicológicos do envelhecimento precisam ser mais bem trabalhados, de acordo com a história e o perfil de cada indivíduo. Em reforço a este ponto, Assis (2004, p. 17) declara que as “oportunidades sociais de inserção dos idosos são recursos valiosos para que projetos de vida possam ser construídos ou retomados, possibilitando ao indivíduo ter um horizonte de futuro e com isso revitalizar seu presente”. Segundo o autor,é imperativo investir na divulgação de conhecimentos científicos que contribuam para o desenvolvimento gradual de uma nova cultura sobre a velhice.

Como se pode observar, é preciso primeiro conhecer, para em seguida agir proativamente, em benefício de uma população que a sociedade parece insistir em manter alijada do processo de desenvolvimento. Entretanto, elaborar projetos de inclusão para a Terceira Idade requer um entendimento mais profundo do processo de envelhecimento humano, bem como das suas consequências. O envelhecer gera diferenças, isto é, submete o indivíduo a um novo universo de necessidades especiais. O avanço da idade biológica se faz presente nos sentidos e na capacidade motora, sem falar na dimensão cognitiva que, se não for constantemente estimulada por situações desafiadoras, tende à estagnação ou ao declínio. 

O primeiro passo ao se colocar o envelhecimento no centro das observações, é alcançar a percepção de que este conceito não é sinônimo de velhice. A bem da verdade, o envelhecimento é um processo universal, isto é, afeta todos os indivíduos de uma espécie e ocorre ao longo do curso da vida. Portanto, o fenômeno do envelhecimento humano abarca um conjunto de modificações morfológicas e funcionais que afetam a todos, do nascimento até a morte. Entretanto, como se verá mais adiante, os efeitos do envelhecer atingem os indivíduos de forma desigual, influenciados por uma certa gama de variáveis orgânicas e ambientais.

A despeito do envelhecimento acompanhar o indivíduo durante a vida, é com a chegada da velhice que seus efeitos se tornam relevantes. Por volta dos 30 anos, o organismo do homem alcança o ápice de seu desenvolvimento biológico, começando a sofrer, a partir daí, uma perda gradativa de funções. Segundo Santos (2003, p. 81), “o processo de envelhecimento provoca no organismo modificações biológicas, psicológicas e sociais; porém é na velhice que esse processo aparece de forma mais evidente”. As mudanças biológicas se fazem presentes em duas dimensões: a morfológica e a fisiológica. Na primeira, encontram-se as modificações relacionadas à aparência, como rugas e cabelos grisalhos. Na segunda, estão as associadas às alterações das funções orgânicas. Da ordem fisiológica, há ainda transformações nas reações bioquímicas do organismo. Já as mudanças psicológicas ocorrem pela necessidade de adaptação do indivíduo às modificações do seu cotidiano. Consequentemente, todo esse processo tem repercussões no âmbito social. Portanto, quando do alcance da velhice, o indivíduo depara-se com um conjunto de mudanças biológicas (morfológicas, fisiológicas e bioquímicas), psicológicas e sociais. Daí a fundamental importância do estudo do envelhecimento nos seus aspectos biopsicossociais.

Uma grande contribuição para a compreensão do envelhecer na sua heterogeneidade é a distinção entre idade cronológica e idade biológica. A idade cronológica é definida por Motta (2004, p. 117) como “o tempo transcorrido a partir de um ponto: a data de nascimento”. Entretanto, segundo a autora, “esta medida [...] tem um sentido apenas legal ou social”. Isto porque, apesar dos efeitos do envelhecimento ocorrerem no tempo, eles não ocorrem exclusivamente por sua causa. O envelhecer, em geral, é influenciado também pelo surgimento de enfermidades e pela influência de fatores socioeconômicos e/ou ambientais. Assim, a idade não é um determinante do processo, mas antes o modo de vida do indivíduo. Portanto, se por um lado, a idade cronológica é de fácil mensuração, a idade biológica se mostra de aferição mais complexa, mormente pelo conjunto de variáveis que impactam as mudanças ocorridas no organismo. Entretanto, a despeito das diferenças de cada idade, o simples fato de conhecê-las e entender suas particularidades já auxilia no diagnóstico do estado de cada sujeito. É claro que o conjunto desses efeitos se faz sentir na esfera social, embora em diferentes níveis. Desse ponto de vista, o envelhecimento espelha uma série de fatores individuais, procedentes do âmbito educacional, das atividades laborativas, bem como das experiências vividas. Nos dias atuais, existe um esforço por focar de maneira positiva o envelhecimento, buscando a minimização das perdas e a potencialização das vivências.

O idoso saudável e equilibrado, portanto, será aquele que, no decorrer do seu processo de envelhecimento, mantiver certo nível de estabilidade nas suas funções biopsicossociais. No entanto, embora seja importante reconhecer padrões de desenvolvimento equilibrados, não se pode atentar somente para as faixas consideradas normais. É nos extravios e nas perdas oriundas das transformações causadas pelo envelhecimento que se encontra a perspectiva da busca pela inclusão. Afinal, é pelo atendimento às especificidades geradas pela velhice que se espera ampliar o surgimento de oportunidades inclusivas para essa população. E a via da Educação é, sem dúvida, uma delas. Na verdade, em qualquer programa educacional, são as alterações nos sentidos e nas funções cognitivas que demandarão maior atenção.

No que se refere aos órgãos dos sentidos, nos idosos são observadas muitas alterações nas funções perceptivas em função da idade. As modificações relacionadas à acuidade visual são frequentemente encontradas nas pessoas idosas. Estas alterações podem ter reflexos diretos no ato da leitura e na interatividade com telas de computador. A presbiopia, conhecida como “vista cansada”, incide com frequência em idosos, quando o cristalino fica mais espesso e mais pesado com a idade, reduzindo a capacidade de foco em objetos próximos. O sintoma mais evidente desse tipo de alteração é a dificuldade de ler, principalmente, letras miúdas. Na audição, mudanças de ordem estrutural levam à diminuição da acuidade auditiva de freqüências mais altas, bem como à redução da capacidade de identificar sons.

No que tange ao declínio das funções cognitivas, é preciso relativizar o processo, associando-o ao estilo de vida do idoso. Geralmente, as mudanças cognitivas podem ser acentuadas quando o idoso está exposto a ambientes estressantes, má alimentação, falta de condicionamento físico, quando está sujeito a trabalho excessivo, depressão ou outros problemas de ordem emocional. Isto sem levar em conta possíveis problemas relacionados a enfermidades. Hayflick (1996) afirma que há grandes evidências de declínios relacionados ao processo cognitivo envolvendo a capacidade de manter atenção, a memória, a velocidade de processar informações, a emissão de conclusões e a interpretação e compreensão do discurso.

Entretanto, já se sabe que, se o idoso mantiver a mente em atividade constante, submetida a estímulos desafiadores, a tendência é não só a manutenção, mas até o incremento das funções mentais. Como se pode ver com Mattos (1999), é importante ressaltar que idosos que não apresentem problemas que comprometam suas atividades, permanecem com as funções intactas e sofrem o mínimo de comprometimento das mesmas. Destarte, mudanças cognitivas que não comprometem o dia-a-dia do indivíduo costumam surgir a partir da quarta ou quinta década da vida. Estas transformações evoluem de forma bastante variável entre os indivíduos, conforme uma variedade de fatores já citados. Fica cada vez mais evidente que a idade cronológica não é o indicador mais confiável para prever as modificações oriundas do processo de envelhecimento.

Assim, através de um desenvolvimento equilibrado, no que diz respeito aos aspectos biopsicossociais da velhice, é possível criar condições para um envelhecimento sem traumas, capaz de proporcionar crescimento até mesmo para um indivíduo em idade mais avançada. É vital, no afã de se desenvolver projetos que atendam às necessidades da Terceira Idade, perceber e respeitar as diferenças, fugir das generalizações e compreender que cada indivíduo é único, trazendo em sua bagagem a herança genética, seu perfil psicológico e sua experiência de vida.

Na verdade, é preciso que ocorra um engajamento macro, envolvendo uma parcela maior da sociedade, nesta causa tão presente, cujos impactos se fazem sentir nas esferas econômica, política e social. É necessário adquirir consciência do status atual, que é consequência das transformações na pirâmide etária populacional do país. A percepção da realidade, bem como a constatação da sua problemática, deve levar a decisões estratégicas que se transformem em soluções positivas a serem implementadas em médio e longo prazos. Programas específicos, tanto na área educacional, como na área de saúde, devem ser elaborados, a fim de ampliar a qualidade de vida desse contingente considerável da população que ultrapassou a barreira dos sessenta anos. A despeito da idade considerada avançada, esse segmento ainda tem muito que contribuir para o crescimento e avanço da sociedade. Caso contrário, corre-se o risco de terminar como Dorian Gray, esfaqueando o próprio retrato distorcido, numa vã tentativa de fugir da ação do tempo, apenas para se deparar com o próprio fim.

Referencia Bibliográfica

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ZIMERMAN, Guite I. Velhice: aspectos biopsicossociais. Porto Alegre : Artmed Editora, 2000. 

 
*Mestre em Educação pela UERJ, Pós-Graduado em Docência Superior, Professor e Administrador pela Universidade Estadual do Maranhão - UEMA

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